'Vem me contar', ela tinha aquele olhar de atenção e aconchego
quando disse isso. Era bem mais que sinceridade, ele não duvidava. Mas o que ele haveria de contar? Poucas coisas aconteceram nos últimos dias, assim como nos dias anteriores e aqueles mais anteriores. Era monotonia, silêncio, aquela bolha onde ele vivia desde muito tempo. ‘Eu te escrevi o tal bilhete’, falou, podia ser relevante pra ela, quem sabe.
‘Ah, o bilhete. Ele tá aí?’, ela comprimiu os lábios, os olhos sombrios, sombras de desconfiança e interesse, olhos de caçadora.
Achou que seria melhor tirar de uma vez o pedaço de papel dobrado do bolso e entregar a ela. Quanto mais rápido, mais breve o desconforto, menor a tortura da ansiedade. Estendeu a mão e viu o papel sumir no bolso da calça dela.
‘Ué, cadê? Não vai ler?’
‘Mais tarde’
‘Agora’, ele insistiu com um riso nervoso demais, escapou quase como um gemido de dor.
Ela meneou a cabeça, sorriu sem mostrar os dentes, daquele jeito que ela fazia tão bem. Tinham mais alguns minutos, porque os pais dela iam chegar e achar aquilo tudo muito errado. Pegou numa mecha de cabelos dela, chegou mais perto até sentir o calor do pescoço, o colar delicado enfeitando a clavícula.
‘Não, mais tarde’, ela repetiu concisa, deixou um beijo estalado nos lábios dele e, subitamente, desviou o rosto para a janela. Apoiou-se e olhou para baixo. ‘Eles chegaram!’
Não era de brincadeira. Aquilo que ele sentia. Nem de longe. Agora, pelo menos, era uma coisa bem séria, ele diria. Mais sério do que muitas prioridades, mais do que qualquer coisa que tivesse de fazer. Parecia tão grave e determinante que ele mal podia respirar, porque aquela coisa arrancava ar dos pulmões, era intenso e palpável, tão avassalador quanto estúpido. Ele riu, riu por toda a madrugada, sempre que se lembrava da sacada e dos cabelos dela ao vento, do sorriso e daqueles olhos místicos cheios de segredos. Era engraçado, estupidamente engraçado. Um abismo onde ele escolheu se jogar.
‘Ah, o bilhete. Ele tá aí?’, ela comprimiu os lábios, os olhos sombrios, sombras de desconfiança e interesse, olhos de caçadora.
Achou que seria melhor tirar de uma vez o pedaço de papel dobrado do bolso e entregar a ela. Quanto mais rápido, mais breve o desconforto, menor a tortura da ansiedade. Estendeu a mão e viu o papel sumir no bolso da calça dela.
‘Ué, cadê? Não vai ler?’
‘Mais tarde’
‘Agora’, ele insistiu com um riso nervoso demais, escapou quase como um gemido de dor.
Ela meneou a cabeça, sorriu sem mostrar os dentes, daquele jeito que ela fazia tão bem. Tinham mais alguns minutos, porque os pais dela iam chegar e achar aquilo tudo muito errado. Pegou numa mecha de cabelos dela, chegou mais perto até sentir o calor do pescoço, o colar delicado enfeitando a clavícula.
‘Não, mais tarde’, ela repetiu concisa, deixou um beijo estalado nos lábios dele e, subitamente, desviou o rosto para a janela. Apoiou-se e olhou para baixo. ‘Eles chegaram!’
Não era de brincadeira. Aquilo que ele sentia. Nem de longe. Agora, pelo menos, era uma coisa bem séria, ele diria. Mais sério do que muitas prioridades, mais do que qualquer coisa que tivesse de fazer. Parecia tão grave e determinante que ele mal podia respirar, porque aquela coisa arrancava ar dos pulmões, era intenso e palpável, tão avassalador quanto estúpido. Ele riu, riu por toda a madrugada, sempre que se lembrava da sacada e dos cabelos dela ao vento, do sorriso e daqueles olhos místicos cheios de segredos. Era engraçado, estupidamente engraçado. Um abismo onde ele escolheu se jogar.
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