É sempre bom parar e fazer um balanço das mudanças na sua vida ao longo do tempo. Outro dia eu reconheci que, em essência, sou a mesma, mas, definitivamente, muitas coisas em mim mudaram. Desde o momento em que me dei conta de fazer parte de um grupo na escolinha, lá nos meus primeiros anos, comecei a ter consciência do tempo e de como ele muda as coisas. Lá estava eu, aquela menininha tímida que, em casa, subia no cajueiro, corria descalça na areia com os primos, que conhecia todo um mundo (aquela pequena dimensão entre o quintal e a porta da frente), lançada num lugar novo onde nada era familiar. Foi meio sem querer, mas eu percebi: crescer é sair da sua zona de conforto e conhecer todas aquelas pessoas diferentes. Em 'conhecer' fica incluído o necessário exercício de lidar tanto com as qualidades quanto com os defeitos de todas elas. Até então, sendo filha única, eu só aceitava as coisas do meu jeito, e a arte de argumentar para entrar em consenso ainda não era do meu domínio.
Depois, já conformada com o fato de que nem sempre as coisas seriam do meu jeito, eu achava que aquilo era tudo o que havia para aprender. Mesmo deixando que eles fizessem como quisessem, secretamente eu tinha certeza de que à minha maneira teria sido melhor. Meio arrogante, mas só em segredo. Descobri mais tarde que, mesmo que silenciosa, a arrogância não me servia para nada além de estragar as amizades. Ser uma das duas únicas meninas numa sala com um bando de meninos enérgicos e teimosos foi a melhor escola para aprender sobre essa e muitas outras coisas que me deixariam pronta para levar as situações mais na esportiva.
Sempre mais observadora que participativa, descrever lugares, pessoas e acontecimentos virou meu passatempo. Com o tempo, fui adicionando floreios às descrições e, um pouco mais tarde, foi inevitável compreender que escrever era o que eu mais amava fazer. O tempo muda e leva algumas coisas, mas o que é essência fica ali pra sempre, e não há nada mais intrínseco em mim que o amor pelo jogo de palavras. Agora, além das palavras escritas, quero vivê-las, fazer delas memórias palpáveis de momentos nos quais dei uma chance à oportunidade e me joguei. Muita coisa mudou nos últimos meses, eu me sinto diferente. É incrível deixar o mundo das ideias e mergulhar na dimensão cheia de possibilidades da prática. Estou vivendo e, sem sombra de dúvidas, aprendendo muito sobre essa minha maleável existência. Que venham as mudanças, mas que permaneça a essência!
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