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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Meu pai


Eu não me lembro bem quando chamei pela primeira vez. Segundo relatos, com poucos dentes, na minha preguiça incorrigível de falar, demorei, mas chamei: Cacai. Seja por um espírito revolucionário, seja por puro desprezo ao clichê primeiro 'papai', eu ainda demoraria a permitir as comemorações eufóricas de vocês dois. Até lá, aos trancos e barrancos, minha mãe ia me ensinando a maneira correta e esperava que eu compreendesse. No fundo, ela sabia que eu só tinha preguiça. É, de falar o certo. Com uma risada de quem conhece bem a filha que tem, ela já disse que, na realidade, eu achava risível todo o esforço das pessoas ao meu redor para me fazer falar as palavras corretamente.

Mas 'cacai' seria só o primeiro termo para o que viria a seguir, tão original e autêntico quanto o anterior: Meu pai. Daí a gente sabe bem de onde veio toda essa minha possessividade. Não é nada doentio, eu só não curto dividir quem eu amo com qualquer pessoa. 

Nunca me perdi - pelo menos não por muito tempo - porque, aparentemente, eu era a única criança chamando, aos berros, 'Meu pai!' ou 'Minha mãe!'. Vê só a inteligência prematura da garota. Enquanto todos os outros pequenos em apuros, perdidos, gritavam da mesma maneira, chamando por pais e mães que poderiam ser quaisquer outros, eu me fazia notar com esses termos tão meus. Ok, é brincadeira, eu nem sou vaidosa. Não tanto assim...

Meu pai. É engraçado que sejamos tão parecidos em tantos aspectos. Meio na sua, sem esbanjar, negando a efusividade por prezar a autenticidade em primeiro lugar, amando com a presença, mesmo em silêncio, e demonstrando da maneira que pode. Eu entendo, quero que saiba disso. Entendo, porque ajo da mesma maneira. Por vontade? Não, é só que é assim que nós somos. 

Então, não se esqueça, cacai, meu pai, que eu o amo muito. Não importa o quê, por quê, onde, quando. Eu o amo. Desde os primeiros até os últimos meses da minha vida.

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