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domingo, 3 de junho de 2012

'Espelho, espelho meu'


‘Espelho, espelho meu’

A beleza é teu instrumento de guerra, o escudo que te mantém a salvo. Quando indefesa, eles te protegerão. Quando forte, eles te respeitarão. Não existe melhor ferramenta, minha menina, acredites em mim. Mesmo sob as sombras do teu caminho, estarás a salvo, pois teu pacto é de sangue, o símbolo da vida fervente em tuas veias. És a mais bela e disso há de tirar proveito sem que nenhuma outra tua glória afronte.
Sobre todos eles reinarás e de nenhum homem dependerás, sempre revestida do véu de tua beleza bélica. E ainda que pungente seja a dor que há de experimentar, jamais estejas a ponto de desistir. Porque és o grito de guerra, a visionária de teu povo oprimido. É o sangue dos teus que corre em tuas veias. Em nome deles estás destinada a continuar até que o último rei do último reino sobre essas terras padeça, aos teus pés envelheça.
Minha menina, um dia serás coroada rainha do mundo, a mais bela dentre todas. Nesse dia, terás levantado a voz daqueles que, como tu, foram enterrados nas valas da humilhação, subjugados pela espada de nossos inimigos. No dia de tua coroação, serás a salvação de teus irmãos e irmãs.

Com o destino traçado, ela foi levada prisioneira, e aquelas palavras tão determinantes se espalharam em sua mente como um zumbido insistente contra o ouvido. Liberta, muitos anos depois, pelos mesmos homens que saquearam sua vila e mataram muitos de seu povo, ela encantou com sua beleza e dela fez uso para ascender socialmente no reino de seus saqueadores. Amante única do primeiro rei a perecer sob sua trama, ela se alimentou da beleza da rainha e tomou o reino, subjugando o povo. 
Aquela não seria a última vez que sangue seria derramado, que dor e sofrimento envenenariam a terra. O que não se sabia era que veneno era tudo o que a rainha vingadora conhecia,a única coisa que a mantinha viva. 
Pobre menina.
E todas as vezes, após o frenesi do triunfo, quando chegava a impetuosa dor, ela se prostrava solitária e em segredo diante do espelho para perguntar:
'Espelho, espelho meu, existe alguém mais miserável do que eu?'
Nunca existia alguém.

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Um pequeno tributo à rainha 'má' de Snow White and the Huntsman.
Eu precisava fazer algo quando reconheci
o sofrimento dessa personagem
 tão condenada e inexplorada.

Créditos pra música que me inspirou!
Breath of Life da banda Florence and the Machine.

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